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Característica da espiritualidade nos dias atuais

“Não to mandei eu? Esforça-te, e tem bom ânimo; não temas, nem te espantes, porque o Senhor é contigo, por onde quer que andares”. Josué 1:9

"Exigem santidade, perfeição, verdade, transparência, sem nada fazer para mudar a si mesmos. Querem emagrecer sem dieta, pagar dívidas sem dinheiro, viver bem sem trabalho, mudar de vida sem mudar hábitos, resolver problemas sem disciplina. É um mundo mágico onde tudo se resolve às custas de Deus. Querem tudo de Deus, sem dar nada de si".

No Antigo Testamento
 Deus se revela de forma pessoal e milagrosa a cada pessoa que ele chamava. Vemos isso nos patriarcas e também nos profetas. Aqui Deus fala com Josué de maneira pessoal e encorajadora. Moisés havia morrido e Josué, guerreiro, temente a Deus e braço direito de Moisés, foi escolhido para continuar liderando o povo rumo à terra prometida.
No Novo Testamento
Em Hebreus 1.1,2 diz: "Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo".
Nos dias atuais
É por meio das Escrituras que sabemos que Cristo é Senhor e também qual a sua vontade para nossas vidas. Não é à toa que muitos preferem ficar na ignorância, pois é por meio das Escrituras que ficam sabendo do seu pecado. Assim também, a ignorância os impede de saber da Boa nova do Evangelho que perdoa os pecados, a saber, Cristo.
Quando me deparo com esta revelação de Deus a Josué, bem como a declaração da vontade de Deus a ele, logo me vêm à mente algumas reflexões teológicas sobre a prática da espiritualidade em nossos tempos.
"Eis que te digo" ao invés de "Está escrito"
A espiritualidade cristã nos dias atuais parece estar caracterizada pelo distanciamento das Escrituras pela autoridade espiritual que exerce sobre a revelação de Cristo e sua vontade. A revelação de Cristo e da sua vontade por intermédio das Escrituras parece não ser mais suficiente. É preciso muito mais do que “Está escrito” para alguém crer e se converter. Quando Cristo entrou no templo derrubando mesas e expulsando cambistas do templo, ele não usufruiu de sua autoridade pessoal, mas da autoridade das Escrituras quando disse: “Está escrito: ...”. E em vários outros textos bíblicos vemos o Messias citando as Escrituras, confirmando a autoridade que ela exerce na revelação de sua pessoa e da vontade do Pai.
É preciso tomar cuidado, pois nos tempos modernos, o “Está escrito”, está se tornando cada vez mais “Eis que te digo”. Não é a vontade de Deus revelada por meio das Escrituras que está moldando caráter e direcionando vidas, é muito mais a nossa própria vontade. Quando Cristo disse: “Está escrito: Minha casa será chamada casa de oração”, ele também enfatizou dizendo: “Vocês a transformaram em covis de ladrões”. Ou seja, vocês se afastaram daquilo que era para ser de acordo com a vontade do Pai para fazer de acordo com a vontade de vocês. Estavam fugindo do propósito e se afastando do modelo.
A carta de Tiago é bem esclarecedora ao falar da nossa luta contra o pecado, dos desejos que militam contra a vontade de Deus por meio da satisfação da carne, ostentação de prazeres e deleites mundanos. Como dizia meu professor de História na faculdade: “Por dinheiro, mulher e poder, o homem é capaz de colocar fogo no mundo”. Assim, o reino de Deus e a sua vontade deixam de ser prioridades para dar lugar à nossa vontade e satisfação pessoal.
"Faz um milagre em mim" ao invés do "Esforça-te e tenha bom ânimo"
Em 2Timóteo 2.5 e 1Coríntios 9.25, Paulo usa a metáfora de um atleta para ilustrar sua vida e caminhada cristã. Em outras, como um soldado convocado para cumprir uma missão, tendo que vencer batalhas, transpor obstáculos, passar necessidades e aflições para concluir o seu chamado. E não é diferente nos dias de hoje. Uma vez que se sabe o que se quer; uma vez que sabemos qual a vontade de Deus para nossas vidas, é preciso ter a disposição de um atleta e a coragem de um soldado para cumprir nossa missão. Porém, não é o que vemos nos tempos modernos.
Cada vez mais cresce a nossa ganância e desejo por coisas boas, mas que não nos custe nada ou quase nada; rendimentos altos com quase nada de trabalho; crescimento pessoal e profissional sem qualquer esforço ou estudo e mão-de-obra qualificada barata ou quase escrava. Temos então uma sociedade extremamente exigente, perfeccionista, egoísta, mas que não move uma palha para ser o que exige. E não é diferente dos cristãos modernos. Exigem santidade, perfeição, verdade, transparência sem nada fazer para mudar a si mesmos. Querem emagrecer sem dieta, pagar dívidas sem dinheiro, viver bem sem trabalho, mudar de vida sem mudar hábitos, resolver problemas sem disciplina. É um mundo mágico, onde tudo se resolve às custas de Deus. Queremos tudo de Deus, sem dar nada de nós.
O ato da Salvação é Graça de Deus para conosco, e nisto não temos esforço ou mérito algum. Porém, ainda temos que cultivar a terra, plantar, regar, cuidar o jardim. Esta é uma tarefa árdua, difícil às vezes e que exige perseverança. Como também ser um cristão autêntico em obediência e santidade exige muita fé, perseverança e disposição. Não é à toa que Deus diz à Josué: “Esforça-te, e tem bom ânimo; não temas, nem te espantes”. Tanto Deus como Josué sabiam que liderar o povo não iria ser uma tarefa fácil e que ia exigir muito suor, obediência e perseverança. 
Tanto Deus como Josué não negligenciaram as dificuldades, os obstáculos e adversidades da vida. Foi uma decisão consciente e uma atitude de fé da parte de Josué. O mesmo Deus que diz a Josué "Esforça e tenha bom ânimo", é o mesmo que diz aos discípulos no Novo Testamento: "... no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo" - João 16.33.
"Eu sinto" ao invés do "Eu creio"
Deus também disse a Josué: “porque o Senhor teu Deus é contigo, por onde quer que andares”. Ou seja, vendo o tamanho do desafio, é certo que sozinho não dá para enfrentar os desafios e vencer. Em outro versículo diz: "... não te deixarei nem te desampararei" - Josué 1.5b. Neste sentido, podemos compreender um pouco mais o que Cristo quer dizem em João 15:5 quando diz: "... porque sem mim, nada podeis fazer". Não é sem motivo também que Cristo encoraja seus discípulos dizendo: "... e eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos" - Mateus 28.20. E para nos auxiliar nesta difícil e árdua tarefa, reforça o time quando diz: "E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre" - João14.16.
Deus nos deu todas as condições necessária para enfrentar os desafio da vida e seguir em frente com os projetos de Deus, porém, enfrentamos a era do "eu sinto", em vez do "eu creio". Não basta as promessas feitas a nós na Escrituras, é preciso algo mais para nos fazer acreditar e agir conforme o esperado por Deus. Preferimos pagar para ver, ou sacrificar do que crer e obedecer.

O que esperar deste século? Pessoas cada vez mais sem parâmetro, sem direção, sem conhecimento Bíblico, exigente, perfeccionistas, intolerantes, avarento, egoísta, sossegadas, sentimentais, indisciplinadas - (2 Timóteo 3:1-7).
Está claro que precisamos de uma nova reforma. Um retorno à centralidade da Cruz e às Escrituras, uma reaproximação do modelo vigente ao modelo bíblico de igreja proposto por Cristo, uma vivência cristã mais autêntica onde o obedecer é melhor do que pagar para ver, ou seja, sacrificar.
Harry Érick

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