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Vida cristã passada a limpo

"Porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus". Colossenses 3:3

Igual ou diferente?

Uma vez que morremos para o mundo e nascemos para Cristo, a vida já não pode ser considerada normal. Deixamos de pertencer a este mundo para viver a vida de Cristo, para buscar as coisas do alto e pensar nas coisas que são de Deus. Assim foi para com Eliseu. Uma vez chamado para o ministério profético e ser o sucessor de Elias, sua vida nunca mais foi a mesma. Eliseu de fato levou muito a sério seu chamado e sua vida nunca mais foi a mesma.

Eliseu foi escolhido por Deus e chamado por Elias para ser o seu sucessor. Eliseu logo foi tomando algumas decisões. A primeira delas foi se livrar das suas ferramentas de trabalho. Eliseu era agricultor, um fazendeiro talvez. Assim que foi chamado, tratou logo de se despedir de seus pais, queimou seus apetrechos de trabalho, matou os bois e distribuiu a carne entre o povo. E só então passou a seguir Elias para aprender como servir a Deus. Foi uma decisão pessoal seguida de uma atitude radical e espontânea. Foi como deixar uma vida e abraçar uma outra. E é assim que devemos encarar o mistério da conversão, momento quando nos tornamos cristãos. Deixamos o passado, toda uma vida de pecados e abraçamos uma outra vida. Morremos para o  pecado e para o mundo, nascemos então para Cristo.

Eliseu era uma pessoa comum como você e eu. Tinha o seu trabalho, suas posses, sonhos, planos e desejos. Assim também podemos dizer dos discípulos de Cristo. Tinham uma vida comum e normal. Alguns deles, como Pedro, por exemplo, era pescador profissional. Mateus era coletor de impostos. Paulo também tinha suas crenças, seu trabalho, status e tudo mais. Eles não sabiam, mas estavam prestes a sofrer mudanças drásticas em suas vidas. Depois que tiveram um encontro com Cristo, suas vidas nunca mais foram a mesma. Todos tiveram que renunciar algo para seguir ou continuar seguindo a Cristo. E é assim em nossa vida cristã, todos os dias renunciamos algo por amor a Cristo.

Cristão ou religioso?

Saber se a fé que professamos é uma fé religiosa ou uma fé cristã genuína é muito importante. Mas como saber? Uma coisa é certa, Deus não anda de mãos dadas com o pecado. E nisto, nossas renúncias falam um pouco de nós. Assim, se já no primeiro encontro falhamos em romper com o passado, com o "velho homem" e tudo o que nos prende a ele, certamente ainda estamos desligado de Cristo e conectados com o pecado. Isto quer dizer que entendemos a mensagem da cruz, contudo, ainda andamos de mãos dadas com o pecado. Nisto, ao invés de abraçar a Cristo e a sua cruz, abraçamos uma religião, que é muito mais confortável. E a partir disto, desenvolvemos uma vida sincrética e dupla. Variamos de acordo como que nos convém, ou seja, ora transitamos entre uma vida com princípios e valores mundanos ora por uma vida religiosa. E isto nos torna piores do que quem não confessa fé alguma.

É preciso livrar-se dos resquícios do passado e do "velho homem". Precisamos nos questionar se a vida que levamos é fruto de um verdadeiro encontro com Cristo ou de uma experiência religiosa apenas. Talvez nos perguntando quais os motivos que nos levam a contribuir no reino de Deus com a nossa vida, tempo ou dinheiro. Sondando nossos corações para saber quais os motivos que nos levam a reunir em nome de Cristo como Igreja do Senhor em uma instituição religiosa apesar de tantas incoerências. Sendo honesto consigo mesmo no exercício da espiritualidade e busca da vontade de Deus, não por modismo ou necessidade, mas por amor e devoção. Se a resposta estiver baseada em medo, retribuição, caridade, generosidade, imposição social ou religiosa, certamente o encontro que tivemos foi com uma religião. 

Assim, é necessário saber se tivemos um encontro genuíno com Cristo ou foi uma experiência religiosa apenas. Será que ao invés disso, não tivemos um encontro com regras, legalismo religioso ou uma filosofia de vida? Se for isso, então a fé que professamos e temos, é apenas uma fé religiosa, filosófica e legalista. Centrada em nossa vontade, desejo e verdade. Não é uma fé cristã autêntica. A fé cristã está centralizada em Cristo, em sua Graça e amor, na sua morte e ressurreição. Morremos para o pecado, vivemos porém para Cristo. Nisto, não há mérito algum, apenas Graça.

Por inteiro ou pela metade?

É bem verdade que ao longo da nossa caminhada enfrentamos muitos obstáculos e dificuldades. Nisto somos postos à prova e é onde também somos tratados, firmados e confirmados. Lembro que Eliseu teve que enfrentar desencorajamento pelos próprios companheiros de ministério - 2Reis 2:1-8. De alguma maneira, era uma forma de provar o seu comprometimento com o ministério e seu compromisso para com Deus. Pessoas que se comprometem pela metade chegam apenas na metade do caminho. Pessoas que não romperam com o passado, que ainda cultivam pecados de estimação estão sempre com o pé atrás em relação a Cristo e a fé que professam. São pessoas que saindo do Egito, ficam prostradas no deserto ou voltam para o Egito.

Antes de ser rei, Davi teve que se submeter a Saul e aprender que o trono é de Deus e não pode ser tomado a força. Os discípulo se submeteram à liderança de Cristo. Jesus ensinou os discípulos, que ensinaram a Paulo, que foi treinado por Barnabé.  E não foi diferente com Eliseu. Elias foi o mentor de Eliseu.  Desse modo, a falta de submissão a uma liderança, discipulado, e humilde são uma das razões pelas quais muitos acabam naufragando na fé e na vida.

Pessoa alguma é tão suficiente a ponto de não precisar do outro. Conhecimento e experiências são adquiridas para serem compartilhadas. Aprendemos nos submetendo a uma liderança, com nossos erros ou com o erro dos outros. Quanto mais nos distanciamos de Deus e uns dos outros, mais longe da sabedoria e do conhecimento estaremos. Eliseu não deu ouvido às vozes que queriam fazer com que ele desistisse do ministério e se distanciasse do seu mentor. Mesmo sabendo que Elias ia ser levado por Deus, perseverou até o fim sem exitar. Isso mostra que Eliseu estava por inteiro. Ele de fato havia abandonado sua vida para viver a vida de Deus. Ele abraçou o seu chamado e a vida profética.

Minha vontade ou a vontade de Deus? 

Há momentos em que fazer a vontade de Deus entra em choque com a nossa. Se de fato estamos a serviço do Senhor, precisamos buscar o seu reino e a sua vontade com a certeza de que as demais coisas nos serão acrescentadas. No exercício de seu ministério, certamente Eliseu teve que decidir sobre a sua vontade ou a vontade de Deus.

Quem não se lembra da lepra de Naamã? Pois então, Naamã era oficial do rei da Síria. Ouviu falar que Eliseu era um homem de Deus, um profeta a serviço do Senhor. Naamã levou consigo muitas riquezas para retribuir o milagre feito. Contudo, sob orientação de Deus, Eliseu prontamente recusou aceitar tais riquezas. Em outro momento, possivelmente o mesmo Naamã que fora curado de lepra, foi a procura de Eliseu para matá-lo. O Senhor, porém, entregou o exército do rei da Síria nas mãos de Eliseu e do rei de Israel. Ao invés de promover guerra, Eliseu promoveu a paz, oferecendo um banquete a todos esses cavaleiros e depois os despediu em paz. Um dia o rei da Síria ficou doente e enviou um de seus servos para consultar Eliseu a respeito de sua doença, e novamente Eliseu atendeu prontamente.

Note que Eliseu teve oportunidades para ficar rico, para matar seus inimigos, ou de se vingar. Contudo, o que vemos é um homem tendo que lhe dar com sua vontade, desejo e sentimentos. Tendo oportunidade para exercer sua vontade, preferiu permanecer na vontade do seu Senhor. Amou o Senhor ao invés de amar as riquezas deste mundo. Fez o que tinha que fazer e não o que queria fazer. Teve que administrar seus conflitos interiores e crises. Renunciou a a sua vida para viver a vida de Deus. Renunciou a si mesmo para  fazer o que Deus o havia chamado para fazer.

Então...

Desde o seu chamado até o término de sua vida Eliseu não teve uma vida normal. Teve que negar a si mesmo e seguir enfrente. Teve que administrar suas crises e conflitos. Morreu para seu passado e abraçou a sua vida presente. Desfez daquilo que poderia lhe atrapalhar e persistiu. Foi um homem comum com um fim extraordinário. Deus operou muitos milagres e maravilhas por meio dele. Morreu de uma doença desconhecida. Nem se quer teve um enterro decente. Até depois de morto ressuscitou um outro morto, quando jogaram seu corpo na cova de um morto desconhecido. 

Deus não livrou Eliseu da morte e nem o curou da doença que ele morreu. Contudo, nem por isso deixou de servir, adorar e glorificar o seu Deus. Será que não há algo errado com a fé que estão pregando e professando hoje em dia?


Harry Érick

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