Minha vida era muito "normal" até decidir trabalhar com Missão transcultural. Eu nunca fui um bom aluno, nunca gostei de estudar e tinha muita dificuldade para escrever uma redação ou aprender alguma coisa. Em minha mente eu ia arrumar um trabalho e trabalhar. Porém, tudo mudou depois que servi o exército.
Saí do exército decidido a correr atrás do prejuízo. E já comecei muito decidido: "Quero estudar e quero fazer medicina!". Bom, para quem nunca gostou de estudar, parece ser algo muito distante. Meus pais sempre me incentivaram. Comecei a estudar por conta própria na biblioteca pública. Não conseguia ler cinco páginas sem cair no sono, mas insistia muito. Eu precisava vencer isso.
Depois de ter vendido minha bicicleta para pagar aulas particulares, um amigo, médico da cidade, vendo o meu esforço, resolveu investir em mim. Saí do interior e fui para a Capital para estudar. Morei em um depósito de mudanças de favor. Estudei na melhor escola da capital e matriculei-me no melhor cursinho que tinha. Nos intervalos, eu catava latinha para pagar o almoço. Minhas aulas começavam às 7 da manhã. Eu voltava para casa às 10 da noite. Na escola, entre os mais de 400 alunos da escola, eu consegui ficar entre os 60 primeiros nos simulados. Fiz o vestibular na Federal, porém não consegui média para passar. Não desisti, e no outro ano tive a proposta de cursar uma faculdade particular. Que beleza!
Eu estava muito entusiasmado e feliz com tudo que estava acontecendo. E no auge da minha alegria, surgiu também a oportunidade de fazer uma escola de missões. Algo que também estava em meu coração, pois sempre quis fazer algo que pudesse ajudar pessoas. Eu sempre fui bem participativo e empenhado nos trabalhos da igreja. No momento em que eu me encontrava, foi uma decisão difícil, mas entendi e tive certeza de que eu queria dedicar este tempo à uma causa voluntária. Mal sabia eu que mais tarde essa seria a minha vida.
Foi muito difícil no começo, pois poucas pessoas entendiam a minha decisão. Fui muito criticado, mas em algum momento também admirado. Carreguei comigo algumas mágoas e desaprovações. Em alguns momentos, por causa das dificuldades eu questionava se tinha tomado a decisão certa. Em outras, chorava porque pensava que se eu tivesse estudado, quem sabe eu estaria em uma situação melhor. Às vezes pensava em desistir. Abracei a minha cruz, às vezes angustiado, outras, contrariado, mas segui em frente. A vida tem dessas coisas, demora um pouco, mas a gente cresce.
Eu passei quase três anos trabalhando de tempo integral na escola de Missões. Não tinha salário algum. Minha Igreja me ajudava com parte do sustento. Eu pagava dois salários mínimos e meio para a escola. Praticamente eu pagava para trabalhar. A maioria do meu sustento vinha de ofertas de pessoas que preguei o evangelho, amigos e amigos de amigos. Eu nunca sabia se ia ter dinheiro para me sustentar ou pagar as viagens. No entanto, nunca tive falta. Vivi em meio à pessoas generosas, abençoadoras e aprendi muito com elas. Meus pais, como sempre, nunca puderam me ajudar financeiramente. Ficavam admirados por saber que já tinha viajado várias cidades e capitais do Brasil e algumas cidades e capitais da Bolívia. No entanto, toda vez que meus pais me perguntavam sobre o trabalho que eu fazia eu não sabia como dizer a eles que eu vivia de ofertas e que não tinha certeza se um dia eu ia conseguir sustentar uma família. Na cabeça deles eu ganhava muito bem para fazer tudo isso e que teria uma aposentadoria boa. Contudo, eles se alegravam comigo, pois viam que eu estava feliz e que eu ajudava muitas pessoas. Por isso, eles se alegravam e tinham orgulho de mim.
Um dia, mostrando algumas fotos de viagem, conversei com meus pais sobre como é o meu trabalho e a respeito de sustento. Meu pai e minha mãe disseram: "Filho, se nada der certo na sua vida, volta pra casa. Não fica passando necessidade por aí. Nós amamos você. Você é sempre bem-vindo”. Foi a melhor coisa que já tinha ouvido. Depois disto, fui para a faculdade de Teologia, fiz pós-graduação. Recebi um convite para dar aulas de teologia em Zurique, na Suíça. Em todo o meu percurso, meus pais nunca duvidaram ou criticaram. Eles estavam felizes em me ver feliz. Nas entrelinhas da minha vida, meu lar, minha família sempre foi o meu porto seguro. E por causa disso, eu fui cada vez mais longe sabendo que tenho um lar, um lugar para onde voltar. Lembro de ver minha mãe catando latinha e fazendo trabalhos manuais para ajudar meu irmão a se formar na faculdade. Hoje, com um pouco mais de recurso, minha mãe é uma investidors na obra de Deus e diretamente na vida de outras pessoas.
Cristo foi tido como bandido, ladrão, e outros adjetivos desse tipo. Foi desprezado, humilhado e açoitado. Mesmo assim, teve uma mãe presente. Até no pior momento para uma mãe, Maria estava lá, aos pés da Cruz. Nunca se envergonhou do seu filho.
Só tenho a agradecer. Obrigado mãe, não foi com dinheiro algum que você ajudou meu irmão e eu, mas com amor, com aceitação e acolhimento. É Deus quem faz a obra. A vocês mães, parabéns pelo seu dia.
Harry Érick
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