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A conversão que não é monetária


Nos cultos somos sempre lembrados sobre a entrega dos dízimos e das ofertas, contudo, é o dízimo que sempre ganha maior destaque.

No Antigo Testamento, em Malaquias 3:8, 10b, o autor diz que são ladrões, tanto quem não dizima quanto quem não oferta. No Novo Testamento fala-se muito pouco em dízimos, porém, enfatiza mais sobre as ofertas. As ofertas surgem como assistência aos santos, alívio à pobreza, amparo às viúvas, estrangeiros, órfãos, doentes, etc - 2Co 8:1-15. O que fica em evidência é a fé e o caráter das pessoas em exercer socorro e misericórdia no atendimento de pessoas com necessidades básicas e emergentes. Neste sentido, dízimos e ofertas são sinônimos e cumprem a mesma finalidade.

Contrariando o que muitos pensam, Malaquias 3:10 não se trata de um mero apelo financeiro. É porém, uma denúncia séria de Deus por meio do profeta contra a corrupção, a idolatria, o egoísmo e a ganância do coração humano. Para entendermos melhor, os sacerdotes da tribo de Levi que presidiam o templo tiravam parte dos dízimos e das ofertas para seu próprio sustento. Isto pode ser entendido na história e também quando se diz: "para que haja mantimento em minha casa" Malaquias 3:10a. Perceba que, com a corrupção do povo, os sacerdotes começam a passar necessidade, e logo também começam a se corromper para sobreviver. A questão é de uma realidade moral e espiritual tão séria que era necessário mais que uma medida pedagógica e disciplinar para que o povo atentasse para sua real situação espiritual. Esta medida implicou em maldição para quem não entregasse os dízimos e ofertas, bênçãos e prosperidade portanto para quem fosse fiel em obedecer. E por incrível que pareça, é dessa forma que o Antigo Testamento desenvolve sua espiritualidade e seu relacionamento com Deus.

Já no Novo Testamento, Cristo, e depois Paulo, trabalham com o princípio da oferta, que é um ato em amor, voluntário e generoso. Não vemos no Novo Testamento consequências ruins, maldição ou punição por não ofertar. Sem ferir a doutrina judaica, onde o dízimo é uma prática comum desde Abraão, num determinado episódio, Cristo critica, não a doutrina, mas o caráter e a crença dos judeus no exercício da sua fé. Cristo denuncia o apego que os religiosos da época tinham ao valor, à quantidade, ao status e à religiosidade. Isto se dá no momento em que Cristo ovserva pessoas dizimando e ofertando. Cristo então enaltece uma viúva pobre, que deu menos em valor e quantidade, mas tudo em amor, fé, devoção e adoração a Deus. O que não percebemos, é que, embora para muitos o que vale é o valor exterior, para Cristo, é o valor interior, se é verdadeiro, fruto de uma fé genuína. Sobre isso, repetindo as palavras do Profeta Isaías, Cristo disse: "Este povo honra-me com os lábios, mas seu coração está longe de mim" Mateus 15:8.

O princípio para dizimar e ofertar é o mesmo. Deve ser um ato de louvor, adoração, glorificação a Deus. Ambos não devem ser feitos de qualquer maneira, mas com amor, fé, devoção, adoração, alegria, generosidade, compaixão, conforme 2Co 9:7,10-12; Mt 6:3,4. Paulo comenta sobre o exemplo dos irmãos da Igreja da Macedônia dizendo que eles o surpreenderam, dando primeiramente ao Senhor - entendo como sendo o dízimo usado na manutenção dos santos, da comunidade ou do templo; e pela vontade de Deus, também aos necessitados - 2Co 8:5. Isso quer dizer que, em relação às suas posses e bens, tiveram a atitude de se colocarem como mordomos de Deus, não só doando, mas doando-se. Dando não somente os dízimos, como também ofertando e ajudando seus irmãos na fé.

Creio que a repreensão dada aos sacerdotes e também ao povo em Malaquias 3:10 jamais deveria ser entendida como sendo o dinheiro a necessidade mais importante, mas sim a falta de conversão: adoração, louvor, submissão, autoridade. Contudo, não podemos negar que bons projetos sociais precisam de dinheiro para se sustentar, porém, quando Deus encontra um coração convertido e generoso, nunca faltará tanto dinheiro, quanto mão-de-obra. Assim, entendo que o apelo que o profeta faz em nome de Deus seja para que convertam-se e temam a Deus, visto que dessa forma não faltará assistência aos pobres e oprimidos, como também mantimentos na casa do Senhor. Deus não precisa de dinheiro, Ele quer pessoas convertidas, tementes, que amem muito mais a Deus do que a si mesmo. Muito mais o próximo do que os bens e riquezas desta Terra.

Obrigar pessoas a dizimar e ofertar não muda o coração humano. O problema nunca foi o dinheiro, mas a falta de temor a Deus, falta de amor ao próximo, o apego do ser humano aos bens materiais e o amor ao dinheiro. Em nossos dias, o amor ao dinheiro e a ganância do coração humano estão domesticados, se tornaram "gospel". Se no contexto de Malaquias o povo "roubava" de Deus por meio da liderança, hoje, líderes roubam do povo usando Deus. Por isso, em muitas catedrais, a máfia dos dízimos e das ofertas ganham maior destaques, muito mais que a própria pregação e a vivência do Evangelho.

Como podemos ver, não é a moeda que precisa converter, é o ser humano. Cristo veio ao mundo por nossa causa, para que pudéssemos ter vida em abundância. E tendo vida, que pudéssemos viver 24 horas por dia para Ele, e não apenas 1 ou 2 dias na semana. Sendo Deus, quis ser humano. Mesmo dono de tudo, optou por não ter nada, não para ter uma vida pobre e miserável, mas para nos ensinar que o nosso maior tesouro está no céu. Ele nos ensinou a viver para o Pai, a almejar o céu ao invés de cobiçar os tesouros desta terra. Com a sua morte nos mostrou que amar é doar sem medidas, não apenas com 10% do nosso dinheiro, mas com 100% da nossa vida. Contudo, ele também ressuscitou para completar a sua obra e para que a nossa fé e esperança não se apoie somente em argumento humano, raciocínios lógicos ou fatos científicos. Não foi por dinheiro que Cristo morreu e ressuscitou, mas foi por dinheiro que ele foi traído.

Harry Érick

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